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sábado, 19 de novembro de 2016

   E lá estava ela. Havia sido arrancada de seu leito há poucos segundos. Grudenta, triste, longe de sua cavidade. Envolvida em celulose macia, observava outras da mesma espécie, vizinhas e parentes, todas na mesma situação. Sentiu o aperto, no momento em que seu corpo frágil fora suprimido dentro do que ela agora considerava sua própria cela. Sua forma se fundia a outras semelhantes, enquanto percebia que através de uma longa ventania, talvez um sopro, outras como ela eram expulsas.
   Alarmou-se quando sentiu que o tecido de papel que a envolvia estava novamente sendo pressionado. Algo mais terrível haveria de acontecer...
   Não sabia mais quem era ela. Havia se transformado em uma imensa massa amarelo cinzenta com fluidos saindo pelos poros. Ironicamente, pensou  que apesar de mais forte e compacta por causa do ressecamento provocado pela situação de aperto com outras colegas, nada podia fazer. Nem aglutinar fuligem do ar que passava por ela, nem sentir a brisa incessante, indo e voltando ao redor de seu corpo. Sabia que já não era mais nada. Que aquele era o fim para ela.
  Um movimento repentino ocorreu do lado de fora. Sentiu que o mundo girava como se estivesse em uma espaçonave rumo a uma cratera. PAF! Para ela, o choque foi ensurdecedor!
  Passou momentos inexplicáveis de angústia no enclaustro de papel. Gritava e esperneava junto as outras. Não havia mais nada a fazer. Sentiu a resignação tomar conta de si, frente a situação inusitada em que se encontrava naquele momento. Passou a ter certeza de que nunca mais sentiria a luz do dia, mesmo que de dentro da sua antiga morada, tomada pela sombra na maior parte do tempo.
  Titubeou, piogarreou, tossiu e perdeu a consciência. passou a sonhar com odores fortes que a envolvera durante toda a sua vida. Cheiro de frango, de carne, de arroz temperado. Todos os aromas fortes que passaram por sua breve vida. Pobre vida. Meleca de vida.

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